Conteúdo do impresso Edição 1311

DESAFIOS ONLINE

Morte de criança no DF reacende debate sobre perigos da internet

Relatório aponta que menos da metade das secretarias de Educação do Brasil têm disciplina específica para o uso seguro da tecnologia digital
Por MARIA SALÉSIA 19/04/2025 - 06:00
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Relatório aponta que menos da metade das secretarias de Educação do Brasil têm disciplina específica para o uso seguro da tecnologia digital
Relatório aponta que menos da metade das secretarias de Educação do Brasil têm disciplina específica para o uso seguro da tecnologia digital

Desafios na internet mataram ou feriram 56 crianças e adolescentes brasileiros desde 2014, conforme aponta levantamento do Instituto DimiCuida, que monitora brincadeiras perigosas na rede. O tema tem chamado ainda mais a atenção desde o domingo, 13, após a morte de Sarah Raissa, de 8 anos, moradora do Distrito Federal, que foi encontrada desacordada em casa depois de ter inalado gás desodorante aerossol “cumprindo” um desses desafios. O caso mostra a importância de orientação a crianças e adolescentes sobre o uso da Internet.

O assunto não é novidade e especialistas alertam que a internet virou “campo minado” para crianças e jovens. O pesquisador Pedro Hartung, diretor de Políticas e Direitos das Crianças do Instituto Alana, em entrevista à Agência Brasil, explicou que a internet aumenta as vulnerabilidades que já existem no âmbito offline. Entre as saídas, ele aponta a necessidade de o Estado aplicar a lei e também da implantação de uma política de educação digital.

Em relação ao tema, a Safernet (ONG brasileira de referência na promoção dos direitos humanos na internet), lançou em março um relatório sobre a existência ou não de disciplina curricular nas escolas da rede pública estadual do país para alunos do ensino médio abordando os cuidados com a Internet.

No entanto, o resultado é nada animador. Segundo relatório “Cultura e Cidadania Digital nos currículos de Ensino Médio das redes estaduais de educação”, menos da metade das secretarias estaduais de Educação do Brasil adotam uma disciplina específica para o uso seguro de tecnologias digitais. Apenas 44%, ou seja, 12 redes de ensino, estão dentro desse universo. O estado de Alagoas aparece nesta relação positiva, acompanhado do Acre, Amazonas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Distrito Federal, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Vale ressaltar que a pesquisa de coleta de dados foi feita ao longo do ano de 2024 e nem todos os estados atenderam a reivindicação. Alagoas, porém, merece destaque ao responder de forma positiva a todos os quesitos.

O estudo foi realizado com base em um levantamento de informações junto às secretarias de educação das 27 unidades da federação, com uso da Lei de Acesso à Informação (LAI). O relatório busca compreender como as redes de ensino têm incorporado, em suas matrizes curriculares de Ensino Médio, a competência de uma cultura digital da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e do complemento de Computação da BNCC considerando temas de uso seguro e consciente das tecnologias, além da formação continuada de professores.

O relatório reforça que, no início de 2025, a entrada em vigor da Lei nº 15.100 (Brasil, 2025b), regulamentada pelo Decreto nº 12.385/2025 (Brasil, 2025a), trouxe a proibição do uso de celulares e outros dispositivos eletrônicos pessoais por crianças e adolescentes em todas as etapas da Educação Básica, embora com exceções, em especial o uso como tecnologia assistiva e o uso com fins pedagógicos.

“Resultado de um posicionamento do Governo Federal sobre os impactos negativos do uso excessivo desses dispositivos na saúde física e mental, a Lei tem movimentado também um alerta necessário de que as escolas, neste momento, devem priorizar as competências e habilidades já previstas na BNCC sobre o uso de TICs, conscientizando estudantes sobre a importância do uso regulado, saudável e crítico (Safernet Brasil, 2025a)”, diz trecho do documento.

E sinaliza, também, o recente lançamento do guia “Crianças, adolescentes e telas: guia sobre usos de dispositivos digitais” (Brasil, 2024a), resultado da articulação da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, além de outros sete ministérios e especialistas da sociedade civil, incluindo a Safernet Brasil.

A pesquisa que mapeia uso de tecnologia nas escolas traz como recomendação que as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio contemplando Educação Digital e Midiática, atualmente em desenvolvimento no Conselho Nacional de Educação, devem incluir orientações que colaborem na direção de uma visão compartilhada da Educação Digital e Midiática para a Cidadania Digital. Trazendo, assim, intencionalidade pedagógica e política para o uso das TICs em prol da cidadania.

Além dos referenciais nacionais, incluindo o ainda em discussão Plano Nacional de Educação 2024-2034.


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